Marcelo Fronckowiak é treinador de voleibol. Campeão da Superliga como jogador e como treinador (Ulbra/RS e RJX/RJ). Atualmente dirige o Dínamo Krasnodar (Rússia).
PGM: Marcelo, conte-nos um pouco da sua trajetória esportiva e profissional?
MF: Sou natural de Porto Alegre, nascido em 1968, faço parte de uma geração que aprendeu a amar o voleibol através da midiatização deste esporte durante o período de fantásticos resultados da chamada “geração de prata”. Fui jogador profissional de voleibol e sou treinador faz 15 anos.
PGM: Em sua opinião como a gestão pode contribuir para o crescimento esportivo do país?
MF: O esporte brasileiro precisa se estruturar a partir da valorização da Educação física na escola. Feito isto, passaremos a ter a necessidade da “gestão” na organização, prospecção e direção de projetos esportivos, sejam eles amadores, de lazer ou de cunho profissional. A figura do gestor representa o elo de conhecimento entre a prática esportiva e a execução de projetos.
PGM: O futebol é a grande paixão nacional. Quais os caminhos para uma mudança nos nossos trilhos e a retomada das grandes conquistas?
MF: Estudo! Estudo da situação atual, comparação com as principais ligas do mundo! Escola para os jovens, melhor preparo para aqueles que pretendem ser profissionais e, caso não consigam, ao menos terão uma possibilidade de formação. Formação para os nossos dirigentes para que possam, efetivamente, assumir a responsabilidade desta modalidade tão importante no nosso país que nem chega a ser esporte e sim religião...
PGM: Apesar de muito se falar em profissionalismo, a estrutura dos clubes brasileiros é amadora. Você é favorável a remuneração de todos os dirigentes? Qual modelo de negócio você sugere?
MF: Sou favorável a remuneração dos dirigentes! Isto é uma profissão; do jeito que estamos não iremos melhorar! Qual o problema de um trabalhador/gestor receber pelo seu trabalho? A situação atual cria distorções.
PGM: E a estrutura das federações e confederações, você é favorável a total profissionalização?
MF: Completamente! A referência anterior em relação aos clubes de futebol serve para as federações e confederações. Precisamos repensar nosso modelo de gestão! Se quisermos profissionalismo e resultados devemos ser profissionais em todas as instancias da esfera esportiva. A falta de profissionalismo nas federações e confederações gera possibilidades nem sempre éticas.
PGM: Quais são as grandes dificuldades para esta completa profissionalização?
MF: Leis, estatutos de clubes. Mudança nas legislações municipais, estaduais e federais no que concerne ao patrocínio esportivo. A organização de federações e confederações que não vislumbram estas possibilidades de mudança. Viemos de uma época onde o esporte teve a tutela do Estado. Parece que continuamos a reproduzir este modelo. Parece-me um contra-senso termos tanto dinheiro para a “base”, segundo as leis de incentivo fiscal e não podermos pagar “profissionais” segundo estas mesmas leis! Estamos exportando nossos melhores atletas!
PGM: Como oriundo do vôlei, qual o caminho para o esporte a nível nacional. Como continuar este crescimento e ao mesmo tempo renovar os atletas e os dirigentes?
MF: Já falei anteriormente na valorização da ESCOLA. Da Educação Física nas escolas privadas e, sobretudo, públicas. Nosso modelo de esporte de rendimento é um “fim” e não um meio para se buscar algo melhor na vida. Muitos jovens abandonam os estudos, pois recebem remuneração maior que a de seus pais. Isto não é correto, pois invertemos a ordem das coisas. Nos países desenvolvidos as crianças são educadas e preparadas para serem bons cidadãos e, talvez atletas e, após uma carreira esportiva possuem uma profissão. No Brasil, infelizmente, não é assim que as coisas funcionam, mas podemos e devemos melhorar! Devemos repensar nosso modelo!
PGM: Qual o cenário que você vislumbra para nosso desempenho nas Olimpíadas Rio-2016?
MF: Brasil top 10 como divulgado, com medalhas e resultados expressivos em, no máximo, 10 modalidades. Já a possibilidade de prática e desenvolvimento de outras modalidades. O meu temor é não termos a devida preparação emocional e psicológica para confirmarmos nas modalidades que somos favoritos. Imaginemos quanta pressão haverá sobre o futebol, o voleibol, alguns judocas, o handebol feminino, os atletas da vela, da natação...
PGM: Quais legados a Copa do Mundo e as Olimpíadas deixaram ou deixarão na nossa cidade e no nosso país?
MF: Para o Rio de Janeiro o legado será maravilhoso! A mais bela cidade do mundo visitada, conhecida e divulgada por todos. Com uma imagem de segurança e de limpeza fora do comum durante estes eventos. Agora eu pergunto, e depois? A praia de Copacabana será tão bem cuidada pelo poder público como foi na Copa? Como será nas Olimpíadas? A segurança pública terá tanto efetivo de policiais preparados como nestes eventos? A Educação Física será valorizada? Vamos contar com instalações disponíveis ao grande público? O Brasil vai estar realmente pronto para receber novos visitantes, para desenvolver e captar recursos do turismo internacional? Vamos aprender inglês nas escolas e falar com os gringos? Possibilidades ótimas como Copa do Mundo e Olimpíadas devem gerar “negócios” para o país. Vários países do mundo aumentam seus respectivos PIB´s com o turismo. Seremos capazes de aproveitar estas possibilidades?
PGM: Você participou de um projeto que culminou com um título para o voleibol carioca na Superliga após muito tempo. Infelizmente este projeto não foi adiante. Qual o grande problema com o esporte carioca que não consegue manter grandes projetos, com exceção da equipe de vôlei da Unilever?
MF: Falta de...
Falta de investimento, falta de planejamento, falta de gestão, falta de capacitação de professores, do poder público, dos treinadores, dos gestores. UFA! No caso da Unilever, as pessoas envolvidas se doam e são extremamente preparadas e profissionais. Gestores, técnicos, comissões técnicas, assessoria de imprensa, pessoal do escritório: TODOS funcionam de forma uníssona, na vitoria e na derrota, sempre evoluindo e jamais se acomodando. Esta equipe não faz “loucuras” econômicas e sempre está nas cabeças, serve como exemplo!
PGM: Num futuro, você gostaria de estar à frente de um projeto deste?
MF: Não sei se entendi bem a pergunta! Estive a frente de um super projeto que deveria durar, pelo menos, até 2016. Fiquei dois anos treinando esta equipe, o RJX-RJ VOLEI, com uma comissão técnica maravilhosa e com um grupo de jogadores fantástico. Fomos campeões e, na dificuldade extrema, fomos honradamente Quinto lugar da Superliga Brasileira de voleibol. Até agora me pergunto por que não pudemos continuar? Após 32 anos sem título na cidade que é o berço da escola brasileira do voleibol, esporte tão vitorioso deste país. Claro que sonho em dirigir algo vultoso como isto, porém, trocaria tranquilamente, mídia, holofotes e alto rendimento por uma condição profissional razoável para profissionais que amam e lutam pelo esporte, como eu tento fazer.
PGM: Que recado você deixa para os leitores do Portal?
MF: Desejo sucesso ao Portal, assim como para as pessoas envolvidas nesta bela iniciativa.
O diferencial da realização na maioria das vezes não é somente repetir caminhos, fórmulas. É dar vida ao que buscamos fazer!
É fazer com humildade, com ética, tentando melhorar sem prejudicar ninguém! Nossos pais e avós já nos ensinaram: Faça o bem não importa a quem, não faça aos outros, aquilo que você não quer receber. Precisamos por em prática estas verdades!
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