Antônio Carlos Aguiar Gouveia (Rio Branco, 20 de abril de 1965) é conhecido simplesmente como Carlão. Foi um jogador de vôlei brasileiro. Ele foi o capitão da seleção brasileira que conquistou o primeiro ouro do vôlei brasileiro nos Jogos Olímpicos de 1992 em Barcelona. Apenas Carlão e Giani, seu companheiro da Maxicono-IT, conseguiram conquistar todos os títulos possíveis jogando de central, ponteiro passador e oposto, graças a seus dotes físicos e ao treinador Bebeto de Freitas.
Portal SETTE: Carlão, conte-nos um pouco da sua trajetória esportiva e profissional?
Carlão: Nasci em Rio Branco-AC e já em minha época de escola pratiquei inúmeros esportes como: atletismo, handebol, futebol e futsal, o vôlei veio bem mais tarde quando sai para estudar em Fortaleza, foi em 84 nas olimpíadas de Los Angeles que tomei gosto por esse esporte que ocupou literalmente todo meu tempo. Pessoas importantes com Prof. Vicente e logo depois Prof. José Fuzil figura conhecida no esporte Cearense me ajudaram muito no início, após ser campeão Juvenil em 85 fui convocado a primeira vez para a Seleção Brasileira Juvenil e assim foi até minha saída em 2001 por não aguentar mais o esquema de treinos e concentração. Foram muitas pessoas importantes nesta caminhada, Marcos Lerbach, José Carlos Brunoro, enfim fica difícil falar de todos, certamente o mais importante na minha carreira como atleta, aquele que conseguiu tirar de mim o máximo me tornando um jogador universal foi Bebeto de Freitas, esse sem dúvida um dos maiores técnico de vôlei do Brasil, sempre assessorado por um grande profissional como Prof. Jorge Barros, com ele consegui talvez o que nenhum jogador brasileiro realizou, jogar e ser campeão em todas as posições do vôlei.
P7: Na sua opinião, como a gestão pode contribuir para o crescimento esportivo do país?
Carlão: Na realidade o esporte Brasileiro precisa de um planejamento para definir nas esferas Municipal, Estadual e Federal suas respectivas responsabilidades, existe uma verdadeira confusão em relação às obrigações de cada um. Como pode o Comitê Olímpico estar a frente do esporte estudantil, essa não e a função dele, e perda de tempo e de atribuições. Um projeto como tive o prazer de conhecer na França que se chama Escola do Esporte onde garotos de 7 a 14 anos passam em diversos núcleos com especialista observando e selecionando futuros atletas e ao mesmo tempo educando quem não tem aptidão para ser um esportista me fez ver que é possível quando se tem vontade de usar o esporte como uma ferramenta de auxílio a educação e não como inimigo como já tive o desprazer de constatar.
P7: O futebol é a grande paixão nacional. Quais os caminhos para uma mudança nos nossos trilhos e a retomada das grandes conquistas, na sua opinião.
Carlão: Nosso futebol atual também precisa de um plano macro e ele também está inserido no que falei anteriormente, basta ver o que fez à Alemanha, mas para que serve um Ministério do Esporte que não sabe atuar dentro de suas obrigações, óbvio que a desorganização se reflete nos campos de Futebol e na Seleção, o grande problema e político, muita gente usando o esporte para se beneficiar.
P7: Apesar de muito se falar em profissionalismo, a estrutura dos clubes brasileiros é amadora. Você é favorável a que presidentes, vice-presidentes e diretores sejam remunerados? Qual modelo de negócio você sugere?
Carlão: O esporte brasileiro funciona de forma amadora em todos os níveis, não se trabalha a meritocracia mas o velho esquema brasileiro de colocarem a frente das federações e confederações, verdadeiros donos do esporte, isso é fácil de mudar mas cade a vontade política para isso? São pessoas que ficam por mais de 20 a 30 anos com desculpas de que fazem um bom trabalho, sei que tiveram mudanças em relação a isso mas precisamos muito mais, quem se coloca contra e literalmente execrado e desacreditado.
P7: E a estrutura das federações e confederações, você é favorável a total profissionalização?
Carlão: Primeiro parar com essa conversa de que são entidades sem fins lucrativos, isso e uma verdadeira piada, essa deveria ser umas das atribuições do Ministério dos Esportes, regulamentar todas as Federações e Confederações para que cada profissional tenha sua atribuição e salários definidos, um organograma claro, se não cumprir o objetivo determinado não têm benefícios, assim funciona na iniciativa privada, rendimento.
P7: Quais são as grandes dificuldades para esta completa profissionalização?
Carlão: A maior dificuldade e a vontade política de se mudar o que está ai a anos, tivemos pequenas mudanças mas e muito pouco para atingirmos uma total transparência nos atos e investimentos das entidades esportivas, todas sem exceção recebem verba do Governo direta ou indiretamente, nossos impostos, tem que ter transparência total.
P7: Como oriundo do vôlei, qual o caminho para o esporte a nível nacional. Como continuar este crescimento e ao mesmo tempo renovar os atletas e os dirigentes?
Carlão: O vôlei também cometeu falhas ao longo dos anos apesar de ser o esporte mais vitorioso do Brasil, a CBV e totalmente voltada para as Seleções e esquece dos clubes e entidades formadoras, precisamos fortalecer os clubes, fiquei na Seleção por 15 anos e apenas em 91 ficamos totalmente sem patrocínio, já vi inúmeras vezes atletas de seleção sem clubes para jogar. A Seleção não pode ser início, meio e fim, o Bernardo e o José Roberto não podem ficar preocupados com atletas que chegam na Seleção Adulta muitas vezes sem saber fundamentos básicos, deficientes tecnicamente, obvio que existem as exceções mais não deve ser assim. A seleção é o carro-chefe, mas no momento que se quer discutir os problemas do nosso vôlei falando só de Seleção, estamos errando no discurso, 90% dos atletas de vôlei nunca vão chegar na Seleção e quando chegam, só uma pequena parte continua. Foram 15 anos vendo isso acontecer, o esporte de alto rendimento é assim. Tudo que falei serve também para o vôlei de praia.
P7: Qual o cenário que você vislumbra para nosso desempenho nas Olimpíadas Rio-2016?
Carlão: Uma pequena melhora mas nada de diferente em termos de resultados, esportes como vôlei, natação, judô, futebol, atletismo e ginástica podem conseguir alguma coisa, disse podem, não e certo que isso vá ocorrer, terá uma pressão muito grande dentro de casa por resultados, isso pode atrapalhar nos momentos de decisão. Acho que o basquete poderá chegar a uma semifinal mas esse esporte e muito competitivo, uma medalha de bronze será um resultado maravilhoso.
P7: Quais legados a Copa do Mundo e as Olimpíadas deixaram ou deixarão na nossa cidade e no nosso país?
Carlão: Espero que as Olimpíadas traga um legado melhor pois a Copa do Mundo tirando a festa e a divulgação do Brasil, muito pouco ficou em termos de estrutura e perdeu-se uma grande oportunidade de capacitar inúmeros profissionais, óbvio que eventos como esse trazem benefícios para o esporte, mais o importante e o legado que fica, Atenas foi um desastre, já Barcelona funcionou muito bem.
P7: Que recado você deixa para os leitores do Portal?
Carlão: Um recado de esperança, sempre acreditei no trabalho e no esforço, nunca busquei o sucesso a qualquer custo, usando pessoas ou de artimanhas para me beneficiar, ninguém precisa disso. O esporte é prazer, trabalho em equipe, sacrifícios, e o mais importante é o resultado final de todos envolvidos, abdicar muitas vezes do resultado pessoal para ver o sorriso de alegria estampado da vitória no rosto de todos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário